quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Asfalto nas vias de pedestre

Por que o asfalto que estāo colocando nas vias de pedestre e bicicleta no Parque do Flamengo causam um mal estar tāo grande para quem caminha? Parece betume puro! Para quê? 




Segundo a arquiteta urbanista Cláudia Girão, "esta pavimentação está acontecendo na pista do trenzinho. Na primeira foto vê-se o túnel do trenzinho, que fica na área próxima ao restaurante original. A pista do trenzinho é uma via original que interliga largos e recantos e cujo traçado biomórfico — o tema biomórfico é recorrente na concepção plástica do Parque do Flamengo — remete ao princípio da vida. O trenzinho funcionou por muitos anos, até que foi desativado; a via é usada hoje para caminhadas pelos visitantes e pelo pessoal que faz a conservação.


O trenzinho aparece na fotografia abaixo, de George Gafner, publicada em 1965 (Gastão Cruls); a foto é provavelmente da inauguração do Parque em 1964, no dia da criança (12 de outubro). Em primeiro plano vê-se o tanque de nautimodelismo. O Parque foi construído a partir de 1961."


A arquiteta acrescenta ainda que "o asfaltamento é extremamente prejudicial ao Parque, é um agente potencial de extermínio de vegetação, pois multiplica o calor dos reflexos solares que passam a atingir as árvores, os arbustos e os gramados e demais herbáceas. Por isso, no projeto do Parque do Flamengo, o asfalto se limita às pistas expressas e aos acessos para os estacionamentos originalmente projetados (os únicos permitidos). Na pista do trenzinho, inclusive, o Plano original do Parque especifica pavimentação em concreto, que não esquenta tanto quanto o asfalto e é muito menos nocivo à vegetação. Mas em todo o Parque, onde é coibida a circulação de veículos, os caminhos e largos de pedestres são em saibro, para dar permeabilidade ao solo, medida essencial inclusive por se tratar de área aterrada à beira-mar. De resto, é especificado em pedras portuguesas brancas o caminho de pedestres que acompanha o contorno do Parque pelo lado do mar, e há pavimentação especialmente desenhada somente nos dois jardins formais (MAM e restaurante). 

O desconforto térmico provocado pelo asfalto, além disso, afasta pessoas e animais que fazem parte dos ecossistemas do Parque. É a jogada de detonar espaços públicos (má conservação, má segurança, desvirtuamento de usos) como artifício para a corrupção das privatizações. É inadmissível que a prefeitura do Rio continue agindo como vem agindo nos últimos anos, contra a preservação deste parque público. É um absurdo que a atual prefeitura continue tentando impor a ditadura dos carros em detrimento dos pedestres para os quais o parque foi criado e com efeitos nefastos sobre sua flora, fauna e composição, além de realizar ‘recuperações’ não raro estapafúrdias e desastrosas."