Se a Câmara dos Deputados já "derrubou" o decreto da Presidente Dilma sobre Participação Social, e o Senado ainda não se manifestou, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) foi mais rápido: enterrou a determinação presidencial ainda na vigência do agonizante decreto.
Isso porque, na decisão sobre o novo projeto da Marina da Glória, o IPHAN simplesmente ignorou, solenemente, a sociedade civil carioca que havia lhe solicitado, oficialmente através da FAM-RIO (Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro), publicidade no processo decisório.
Sim, porque em 17 em outubro de 2014, com o projeto ainda sendo apreciado pelas áreas técnicas do IPHAN, a FAM-RIO dirigiu um ofício ao Instituto, pedindo para tomar conhecimento do teor do mesmo; queria fazer valer o decreto da Presidente da República, e realizar uma Audiência Pública para dar publicidade ao novo projeto da empresa BR Marinas, única a participar das reuniões decisórias no IPHAN.
Porém, foi apenas após a aprovação do novo projeto da BR Marinas pela Presidência do IPHAN (em 5/11) é que esta instituição se dignou a responder (1 e 2), em 17 de novembro, o ofício da FAM-RIO, dizendo que não cabia a ela fazer audiência pública! Desobedeceu frontalmente as diretrizes do Decreto da Presidente da República, que no art.3º, incisos I, II.IV diz:
Guardiã do patrimônio - Durante mais de sete anos a sociedade civil carioca correu atrás de salvar a Marina da Glória de barbaridades - como uma garagem náutica dentro da Baía da Guanabara, e da privatização. Foram vários manifestos junto à Justiça Federal, ao Ministério Público Federal, ao Conselho Consultivo do IPHAN, à Superintendência de Patrimônio da União, à Prefeitura, à imprensa, e tudo mais que podia colaborar para evitar a feroz tentativa de apropriação daquele espaço.
Tudo documentado neste Blog. Também foi a sociedade civil quem propôs e ganhou as duas ações mais significativas para manutenção do espaço público do Parque: a ação popular, proposta por HC e EC, que recuperou a área do bosque de piqueniques que havia sido ilegalmente fechada, e a ação popular que diz que ali é uma Marina náutica e não um salão de festas e de exposições diversas.
Foi a sociedade civil que acompanhou todas as audiências de 1ª e 2ª instâncias que, na época do Pan, reverteu uma liminar que liberava construções no local, mantendo a área como patrimônio cultural tombado. Representantes da sociedade civil, especialmente do movimento SOS Parque do Flamengo, ASSUMA (Associação de Usuários da Marina da Glória) e da FAM-RIO estiveram presentes em todas as reuniões do Conselho Consultivo em que se discutiu os projetos propostos nos últimos 10 anos, levando para todos os Conselheiros documentos e informações que os processos administrativos não continham ou omitiam.
Estas reuniões aconteceram no Rio e depois em Brasília. E mesmo lá em BSB, sempre que era noticiada a pauta, a sociedade civil esteve presente, mesmo quando não era avisada.
A sociedade civil do Rio, no caso da Marina da Glória, foi a verdadeira guardiã deste patrimônio da Cidade, conforme as palavras de Aloísio Magalhães, ex presidente do IPHAN e grande reformador de sua trajetória mais democrática.
Apesar de tudo isso, e apesar do Conselho Consultivo, em sua ata de 5 de julho de 2013, ter decidido que a Câmara Técnica iria estabelecer os parâmetros de ocupação a serem referendados pelo Conselho (linhas 302 a 304 da ata), o projeto recente da interessada BR Marinas foi aprovado pela Presidência do IPHAN em tempo recorde, sem qualquer apresentação à sociedade civil, aos usuários, ao Conselho, ou à sociedade em geral.
Se o projeto aprovado melhorou, ou não, as barbaridades dos anteriores não sabemos, porque a sociedade civil foi posta para escanteio pela direção do IPHAN, depois anos de colaboração.
Mas, se algo melhorou, foi fruto da resistência social. Por isso, além de injusto o desprezo do IPHAN à sociedade civil neste processo, este malfadado comportamento administrativo da direção do IPHAN reafirma sua desconfiança na participação social, e marca um retrocesso na transparência nas decisões que afetam, diretamente, o interesse público.
Lamentável. Mas não desistiremos...
Notícias na mídia sobre a aprovação. Clique aqui.
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