Matéria publicada no Valor Econômico Online
Por Paola de Moura em 07.12.2011
RIO - Uma sucessão de imbróglios públicos está impedindo o Grupo EBX de iniciar seus projetos de ampliação e reestruturação da Marina da Glória no Aterro do Flamengo. O Ministério Público Federal instaurou um inquérito para investigar se o projeto proposto pela a empresa de Eike Batista, de construir um centro de convenções de 44 mil metros quadrados, não violaria a legislação e o tombamento da área. A confusão é tanta que dentro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há quem diga que o projeto foi aprovado e quem diga que não.
Hoje, em audiência pública realizada no Rio, funcionários e conselheiros do Iphan se contradisseram. O conselheiro Ítalo Campofiorit afirmou que o projeto foi aprovado e que apesar de prever um grande centro de convenções, “não ofende em nada a paisagem”. Questionado sobre a dimensão do empreendimento e se ultrapassava os parâmetros previstos pelo Iphan anteriormente, o conselheiro afirmou “que não existem parâmetros para a beleza”.
A confusão em cima do projeto começou porque, apesar de ter sido aprovado em abril de 2011 pelo conselho do instituto em Brasília, até hoje não foi publicada a ata da reunião ou o processo de análise técnica apresentado publicamente. O embaixador Marcos Castrioto Azambuja, também conselheiro, fez um mea-culpa do instituto e disse que é “preciso ser mais preocupado com os detalhes principalmente diante de grandes interesses econômicos. Estamos diante de um processo defeituoso”, afirmou.
Depois de muita cobrança, o diretor Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Andrey Rosenthal, apresentou o documento. Afirmou que o texto estava em Brasília e também que o projeto do Grupo EBX tinha sido amplamente analisado e aprovado pelos conselheiros.
Para surpresa de todos os presentes na audiência, o ex-superintendente do Iphan no Rio, Carlos Fernando Andrade, que foi exonerado do cargo na terça-feira, desmentiu a todos e disse que de fato não existia projeto de reestruturação da Marina da Glória. Segundo Andrade, quando foi consultado pela prefeitura sobre a obra, se sentiu impedido de julgá-la, já que ele próprio havia embargado outra reforma proposta pela antiga administradora da Marina, a EBTE, na época dos Jogos Panamericanos, em 2007. “Achei de bom tom ouvir o conselho. E foi isto que eles fizeram, julgaram se nós poderíamos analisar o pedido”.
A vereadora Sônia Rabello (PV), ex-Procuradora Geral do município que também já atuou como diretora do departamento de Patrimônio Material do Iphan, lembrou que o próprio site do instituto publicou a notícia de aprovação e que a Procuradoria Geral da República também a informou por ofício que o documento tinha sido aprovado.
Paulo Monteiro, diretor de Sustentabilidade do Grupo EBX, explica que a empresa não está fazendo nenhuma obra na Marina e aguarda a autorização tanto da Iphan, como da prefeitura e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A EBX pretende investir R$ 150 milhões na área.
O Ministério Público abriu inquérito e continuará investigando o processo. O procurador federal Renato Machado reclamou da falta de transparência do Iphan. “É o mínimo dar ao cidadão a informação real e transparente do que é público”. Machado acrescentou que se for confirmada a intenção dos administradores de esconder os fatos, será encaminhada uma denúncia à Justiça para que seja movida uma ação de improbidade contra os responsáveis no Iphan.
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