terça-feira, 4 de agosto de 2009

ABANDONO E INCOMPREENSÃO AMEAÇAM O LEGADO DE BURLE MARX!

VEJA ABAIXO A REPRODUÇÃO DA NOTÍCIA...
segunda-feira, 3 de agosto de 2009, 20:53 Online - ESTADÃO SP
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,abandono-e-incompreensao-ameacam-legado-de-burle-marx,413001,0.htm

No centenário de nascimento do célebre paisagista, especialistas cobram atenção a sua obra
Daniel Jelin, do estadao.com.br

Burle Marx: "É preciso proteger a natureza como repositório da beleza"SÃO PAULO - Haruyoshi Ono não pode acreditar. Um dia depois de contar ao estadao.com.br que o Parque do Flamengo, no Rio, era a "menina dos olhos" do paisagista Roberto Burle Marx, o prefeito da cidade, Eduardo Paes, postou no Twitter a intenção de promover justamente por lá a etapa inaugural da temporada 2010 de Fórmula Indy. "Só posso achar que é brincadeira. Somos totalmente contra", reage o ex-assistente e depois sócio do mais célebre paisagista brasileiro, cujo centenário de nascimento é lembrado nesta terça-feira (4).

O episódio ilustra bem a constante ameaça que ronda o legado de Burle Marx, inventor do jardim moderno brasileiro. O parque é, entre mais de 2 mil projetos, um dos mais bem sucedidos de Burle Marx. É exemplo único de projeto tombado mesmo antes de ser concluído, nos anos 60, tamanho o impacto da obra. Mas isso nem o livrou de intervenções imprevistas - como a Marina da Glória, que se fez por uma canetada durante regime militar - nem garante sua devida manutenção. Há uma década, o parque passou por obras de recuperação, mas hoje seu estado, na descrição do arquiteto Eduardo Barra, é "lastimável". "Se isso ocorre num parque daquelas proporções, imagine nos espaços menores, mais escondidos", diz.
Esta inquietação levou a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas em 2007, então presidida por Barra, a solicitar o tombamento de toda a obra de Burle Marx no Rio, cidade em que o paisagista imprimiu uma série de marcas: o calçadão da Avenida Atlântica, os jardins do MAM, do Largo da Carioca e outras dezenas de obras. "É uma forma de frear esse arroubo de criatividade de nossos governantes e mesmo de alguns profissionais que ainda não compreenderam a importância do legado do mestre", diz Barra, dando por exemplo a intenção de um colega de interferir em uma obra de Burle Marx "transformando-a de contemplativa em interativa, seja lá o que isso venha a significar".
O pedido de tombamento foi encampado pela prefeitura e - surpresa - resistiu à troca de administração, em 2008. Mas ainda está no papel: estuda-se agora uma relação de 80 a 100 obras para o tombamento, mas não há previsão para que seja concluído.
Recife, em que Burle Marx também imprimiu uma forte identidade paisagística, está na frente. O inventário de obras está pronto e aguarda-se para este ano o tombamento de seis praças públicas, tanto no âmbito estadual (Fundarpe) como federal (Iphan). E o mais importante: três praças já foram reformadas, uma já tem o plano de restauro pronto e em outras duas nem precisa mexer porque estão razoavelmente bem conservadas, informa a arquiteta Ana Rita Sá Carneiro, especialista em Burle Marx e coordenadora do Laboratório da Paisagem, da Universidade Federal de Pernambuco.
Outros jardins de Burle Marx não tiveram a mesma sorte e sumiram completamente da paisagem: desde jóias privadas, como os da residência de Carlos Somlo, em Teresópolis, até os pátios da Unesco, em Paris, que foram destruídos em uma criticada reforma nos anos 90. Outros se desfiguram e somem aos poucos, como o Jardim das Nações, em Viena, cuja ruína é testemunhada pelo arquiteto paisagista Erich Proglhof, brasileiro de São José dos Campos que mora há 22 anos na capital austríaca. Seu estado atual é "deplorável", conta.

Parque do Flamengo, uma das mais bem sucedidas obras de Burle Marx.

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